domingo, 20 de janeiro de 2013

Sob a névoa do pseudonacionalismo

Promessas e frustrações: por onde estarão
as mudanças, senhor presidente Marin?
(Foto: Marcelo Sayao/EFE)
E aproxima-se o dia da primeira convocação de Luiz Felipe Scolari no seu retorno à seleção brasileira para o amistoso diante da Inglaterra, em Wembley. Muito se especula se o técnico alterará todo o legado deixado por Mano Menezes ou continuará com o trabalho do antecessor. Sinceramente, desejo que haja fortes mudanças.

Na verdade, o assunto a ser tratado nas próximas linhas é exatamente o oposto das esperançosas mudanças que citei. Passou-se tanto tempo, e nada mudou. Entenda.

Assim que abriu o evento de apresentação do novo treinador do Brasil, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, apelou para o nacionalismo para explicar a escolha de Felipão. Afinal, “os títulos que nós conquistamos, foram obtidos graças ao trabalho dos nossos técnicos”, como ele mesmo declarou. O cartola definiu o retorno de Scolari como o melhor que o nosso país pode oferecer atualmente para o “principal sustentáculo do futebol brasileiro” para atingir o objetivo maior de conquistar a tão desejada Copa do Mundo de 2014. Pegou pesado, Marin.

Pessoalmente, não vejo de forma negativa a volta do principal responsável por conquistar o pentacampeonato desacreditado e pouco valorizado por muitos de 2002. Lamento, porém, por mais uma oportunidade desperdiçada pelos principais dirigentes do país para renovar o futebol canarinho. Obrigado por tudo o que o senhor conquistou para nós, Felipão, mas agora não era a sua hora. Estava na hora daquilo que nunca teremos de fato, não só no esporte, mas em todos os ramos que partem da sociedade: transformações, as verdadeiras.

A partir do momento que todo um projeto não ocorre como o esperado, é normal, assim como apelou Marin, enaltecer o nacionalismo. Aliado a isso, a nostalgia. Claro, pois é sempre fácil lembrar-se do passado para criticar o presente e ansiar por um futuro melhor. Nosso futebol vive isso. Na verdade, nosso povo, que, aliás, é sempre o único iludido e desamparado personagem de toda a história que surgiu desde a colonização portuguesa em 1500.


Felipão e Parreira: heróis de guerra em tempo de paz. Fizeram muito no passado,
mas não são qualificados para assumir os papeis nos quais foram escolhidos
(Foto: Bruno de Lima)
Jogo rápido: após um bom tempo aprisionado ao sistema lusitano de governo, veio aquele que seria o homem para, assim como se desencadeava na América Latina, liderar o processo de independência do Brasil. O imperador D. Pedro deu o famoso “Grito do Ipiranga” para elevar o país ao nível que merecia. Espera, um imperador liderando o processo libertador contra um sistema monárquico? Pois bem, avancemos o tempo: década de 60. Visando acompanhar a implantação do nacionalismo (olha ele aí mais vez) adotado pelos europeus em consequência do Iluminismo provindo da Revolução Francesa, foi prometido ao povo mudanças (de novo?) para que o país atingisse o patamar que era digno. Resultado? Brasil, ame-o ou deixe-o. Tudo bem, após o lamentável episódio da Ditadura Militar – a qual Marin teve significativa atuação -, veio o sistema que era definido como o único capaz de servir democraticamente a nação: a República. O primeiro presidente do país? Sarney. Transformações. Todas falsas, ilusórias, e, como escrevi no início deste texto, também aconteceram no futebol.

Esse passeio pela história foi necessário apenas para enfatizar o tema aqui proposto, aplicado ao futebol, que tem como a ponta do iceberg a nomeação de Felipão na Seleção. E quem representa a sociedade nesse caso é o torcedor. Achei covarde o apelo de Marin ao mencionar o nacionalismo e o torcedor no início de mais uma tentativa das ilusórias transformações. Afinal, se não era a hora de Felipão retornar, o que dizer da escolha de Carlos Alberto Parreira como diretor técnico? Outro que fez muito pelo futebol brasileiro, mas que não era o nome certo para um projeto tão ambicioso como o pretendido pela CBF.

Com a nomeação deles, dois profissionais infelizmente foram deixados de lado: Tite e Rodrigo Caetano. O treinador pelas conquistas que fez no Sul à frente de Grêmio e Internacional e por tudo o que conquistou no Corinthians atualmente, e não falo só de títulos. O segundo, pela gana apresentada nos trabalhos à frente de Grêmio e Vasco, que o levaram, merecidamente, a ser contratado no fim da temporada passada pelo Fluminense, campeão brasileiro, para seguir o ótimo trabalho como diretor de futebol. Sem contar o que uma pessoa nova como ele poderia agregar ao proposto pela entidade. Antes que me perguntem, sim, fui a favor de Guardiola no comando da Seleção quando especulado.


Os ideais para assumir o comando máximo do futebol brasileiro: Tite
e Rodrigo Caetano, profissionais "desperdiçados" pela CBF
(Foto: Montagem/Luiz Queiroga)
Só lamento a forma bisonha como conduzem o esporte mais adorado do mundo e tentam demonstrar que sabem lidar com ele para o torcedor. Cadê a moral de exigir de Neymar e companhia um futebol vistoso e alegre, pra cima, ousado, enquanto os homens que representam a CBF se apoiam no passado, na retranca de Felipão? Como falar de nacionalismo num país que foi educado a largar os seus ídolos e não retribuir tudo o que promoveram em nome do nosso futebol. Enquanto craques como Michel Platini e Franz Beckenbauer participam ativamente da administração do esporte na Europa e são a todo o momento homenageados pelos seus feitos no passado e atualmente, Pelé e uma verdadeira seleção de boleiros sofrem com a falta de respeito e reconhecimento por aqui.

E dentro de toda essa hipocrisia, o homem que representa diante da FIFA o futebol brasileiro é o mesmo que, como atacou o jornalista Juca Kfouri, “fartamente” foi o responsável pela prisão e, consequentemente, pela morte do jornalista Vladimir Herzog durante a Ditadura Militar, já que “na época, Marin era deputado e em discursos elogiava o trabalho do torturador Sérgio Paranhos Fleury e colaborava com as denúncias sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Herzog”, segundo publicou Kfouri. Como, senhor presidente José Maria Marin, tem a coragem de apelar para o amor ao país e falar de mudanças, se é um dos principais exemplos de retrocesso do futebol brasileiro?


Enquanto o futebol brasileiro é comandado inteiramente por bandidos, na Europa
existe profissionais preocupados em combater a corrupção e administrar
da melhor maneira o esporte; Michel Platini (direita), é um desses homens
(Foto: Montagem/Luiz Queiroga)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ganso: A peça que faltava

Paulo Henrique Ganso: camisa 10 que vestirá a 8 (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
Após muitas especulações e três “alarmes falsos”, finalmente o São Paulo anunciou a contratação do meio-campista Paulo Henrique Ganso. O interesse tricolor, que teve início pouco antes das Olimpíadas e tornou-se em uma novela mais importante até mesmo que a protagonizada por Tufão, Carminha, Nina e companhia, encerrou-se com o atleta assinando um contrato de cinco anos com o clube do Morumbi. E, diferentemente das novelas tradicionais, que os bonzinhos têm um final feliz e os vilões amargam pelo pior, essa acabou feliz para todas as partes.

A procura pelo tão sonhado camisa 10 iniciou-se quando Danilo, um dos grandes nomes das conquistas da Libertadores e do Mundial de 2005 pelo São Paulo, aceitou o desafio de disputar o futebol japonês.

Criticado por parecer às vezes estar dormindo dentro de campo, a ausência do meia só foi percebida pela torcida quando notou-se que, por exemplo, em 2008, o cara do meio de campo foi Hugo, atualmente no Sport de Recife. Depois de Danilo, a 10 passou por mãos não dignas da mística dessa camisa, como Souza, seja por falta de habilidade, e Hernanes, ou por não ter de fato um meia clássico no elenco.

A camisa 10 passou por vários meias, até mesmo por Adriano, centroavante de ofício
(Montagem: Luiz Queiroga)
A vinda de Ganso encerra com esse jejum no Morumbi e traz alívio para a torcida, dirigentes e até mesmo jogadores. Afirmo isso por estar diretamente ligado com a pressão que o atual dono da 10 está recebendo. Por R$9 milhões mais uma porcentagem do volante Wellington, Jadson chegou no São Paulo como o homem de criação perfeito, sendo recebido até mesmo pelo ídolo Raí na apresentação, ano passado. O jogador, porém, nunca foi um meia clássico, e poucos pareceram perceber isso.

Atuando durante muitos anos na Ucrânia, Jadson usou e desempenhava a função do típico camisa 8, aquele que é responsável por fazer a ligação da defesa para o ataque com muita qualidade, melhorar o passe do meio de campo. Quem acompanha os jogos do São Paulo percebe que esse papel é responsável por Maicon, alvo de muitas críticas pela limitação técnica. Com a chegada de Ganso, Jadson será deslocado para a sua posição de origem, formando assim um losango de bastante qualidade ao lado do novo reforço e dos volantes Denílson e Wellington.

Pita já desejou sorte para Ganso no São Paulo
(Foto: Agência Estado)
Muitos espelham-se na passagem de Pita, que também deixou o Santos para defender o São Paulo durante a década de 80, para sonharem alto com a chegada de Ganso no Morumbi. Como todo apaixonado pelo bom futebol, também espero que o casamento dê certo. A vontade do jogador, como declarou no site oficial do Tricolor o diretor de futebol Adalberto Baptista, foi de extrema importância para selar o negócio entre ambas as partes.

Não pretendo nem fazer uma análise sobre como se estendeu a transferência até o seu desfecho positivo, pois essa novela realmente deu o que falar e foi bastante cansativa para todas as partes envolvidas; além do mais, o Jornalismo FC tratou de informar todos os capítulos, só acessar o portal e conferir todos os detalhes, incluindo matérias minhas.

Mas, assim como o técnico Muricy Ramalho disse ao Diário Lance, “quando entra um time do nível como o São Paulo na negociação, é complicado de segurar (o jogador), porque eu estive lá, sei como é. No meu tempo lá, tinha três ou quatro clubes que queriam o jogador e ele vinha para o São Paulo, porque sabe que é um clube sério, e é difícil não aceitar”. Aliada a vontade de Ganso, o profissionalismo e insistência tricolores também têm que ser enaltecidos.

Vida nova, casa nova, momento novo e, para o bem do futebol brasileiro, por que não um novo Ganso. Finalmente um clube grandioso como o São Paulo tem um meia igualmente importante.

Ganso tem tudo para ter um novo começo na carreira
(Foto:  Rubens Chiri / saopaulofc.net)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Au revoir, Morumbi

Lucas é uma das maiores revelações do
futebol brasileiro (Foto: Wagno Carmo)

Esta semana foi marcada por um grande acontecimento envolvendo um dos nomes mais promissores que surgiram no futebol brasileiro recentemente. Por um valor recorde de R$108,3 milhões, o atacante Lucas foi vendido para o tradicional – e agora rico – Paris Saint-Germain. A surpreendente negociação, que você confere todos os detalhes no Jornalismo FC, gera várias discussões e opiniões.

Vale primeiro ressaltar como a transferência reafirmou as categorias de base do São Paulo FC como uma das referências do país. O excelente trabalho realizado em Cotia, onde o clube gastou R$19,3 milhões ano passado, segundo informou Ricardo Perrone, em seu blog, tem valores significativos que comprovam como a obsessão do presidente Juvenal Juvêncio tem sido uma fonte rentável ao Morumbi, que só com as vendas de Breno, Hernanes, Lucas Piazon, Oscar e agora Lucas arrecadou cerca de R$280 milhões, conforme avaliou o blogueiro Navarro em sua página.
Coube a Lucas liderar os outros garotos no Morumbi
 (Foto: Dhavid Normando/Photocamera)
Deixando agora os valores e o processo que levou à formação de Lucas, falemos do atleta. Antes chamado de Marcelinho, por treinar na escolinha do ídolo corintiano Marcelinho Carioca e ter uma leve semelhança com o ex-jogador, o meia teve uma rápida identificação com o São Paulo e, principalmente, com a torcida tricolor. Talvez o casamento foi tão rápido em função do vazio e trauma deixados pela outra joia Oscar, que desvinculou-se do clube e deixou muitos torcedores frustrados, magoados. História pra outro dia.

Comparações com Kaká foram inevitáveis, muito devido às arrancadas de Lucas do meio de campo, quase sempre terminadas em gol e muita comemoração. Humilde, profissional, moleque, humano. Como é de esperar de um jovem atleta, oscilações, espetáculos e derrotas – ou melhor, aprendizados. Ao lado de Neymar, esperança de um futuro mais alegre para o futebol pentacampeão mundial.
Maior transferência do futebol brasileiro, Lucas foi destaque no site oficial
do PSG; a torcida aprovou a contratação (Foto: Reprodução)
Acredito que a ida ao Paris Saint-Germain foi ótima para todos as partes envolvidas: clubes formador e interessado, jogador e seu empresário. Trata-se de um time de bastante tradição do Velho Continente, cheio de glamour e de vitórias; perfeito para Lucas. É verdade que há anos o time não tem tido resultados significativos, mas após a venda do PSG para a Qatar Sports Investments, jogadores como Thiago Silva, Pastore, Ibrahimovic e Lavezzi chegaram à capital francesa por valores absurdos e um novo horizonte surgiu atrás da Torres de Paris.

Raí sempre procurou aconselhar e
orientar a carreira de Lucas
(Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC)
Um time não funciona de imediato, mesmo com uma injeção de dinheiro com essa ou então nomes de respeito, mas é importante notar que houve o investimento, e mais: há um homem que gerencia todo esse planejamento, e que, diga-se de passagem, foi o responsável pela contratação de Lucas: o ex-jogador do SPFC, Leonardo, atual diretor esportivo do PSG. Ele é o cabeça que direcionará todos os milhões gastos pelo clube e o homem ideal para dar o suporte necessário a Lucas.

Além do ex-atleta, há também uma legião verde-amarela em Paris: além de Lucas, Thiago Silva, Nenê, Thiago Motta e Maxwell são os compatriotas que dão um toque de samba no clube. Aliado a isso, ainda existe o fato de o ídolo do SPFC e do PSG, Raí, facilitar a integração do camisa 7 do Morumbi em vários âmbitos, principalmente da ligação com a torcida, ponto importantíssimo para o início desse novo desafio.

O fato de Lucas, porém, apresentar-se ao seu mais novo time apenas em janeiro do ano que vem tem pontos interessantes a serem destacados.  Visando o lado do atleta, o ideal seria que já iniciasse os trabalhos no PSG, mesmo que não fosse disputar os torneios, para que se acostumasse aos treinamentos e diferenças do futebol francês, além de começar a aprender e lidar com a língua local.

Já por parte do São Paulo, não há do que reclamar. O clube permanecerá com um dos pilares até o fim do ano para a disputa do Campeonato Brasileiro e da Copa Sul-Americana, algo imprescindível já que a diretoria não teria como suprir sua ausência, seja por precisar ainda escolher e analisar quem seria o substituto ideal ou então porque o mercado para o exterior está fechado.

Mesmo só indo para Paris no começo do ano que vem, Lucas já pode começar
a se despedir da torcida. Ou seria apenas um "Até logo"?(Foto: Dhavid Normando/Photocamera) 
Mas o fato de Lucas aceitar permanecer no Brasil é mais uma prova do comprometimento e amor que o garoto tem pelo seu time, pensando no coletivo ao invés do individual. Algo que a torcida não pode esquecer caso títulos não sejam conquistados neste ano..

Recomeço

Saudações!

É com muita alegria que reinauguro o blog após um longo período sem atualizá-lo. Quem me acompanha desde o início da minha carreira jornalística sabe que depois de ter ingressado nos portais Jornalismo Futebol Clube e SPFC Digital, parei de escrever por aqui.

Depois de muito tempo e refletir, resolvi retomar com o meu blog. Estava com dúvidas em manter-me no Blogspot ou migrar para o outro, mas o Tumblr, o que melhor me atendeu graficamente, não apresentou ferramentas básicas para a atualização da página.

Espero que tenham gostado do plano de fundo novo, deu bastante trabalho para editá-lo.

sábado, 12 de março de 2011

Agora a moda é repatriar

Na tarde desta sexta-feira, 11 de março, a torcida são paulina recebeu uma excelente notícia vinda da diretoria. O clube tinha assinado contrato de quatro anos com um dos maiores ídolos e artilheiros da sua história, Luís Fabiano. Claro, não foram poupados esforços para trazê-lo e cerca de 20 milhões de reais foram pagos. Esse é apenas mais um capítulo de uma história que vem sendo escrita no futebol brasileiro há alguns anos: a repatriação de jogadores que fizeram sucesso aqui no país e no exterior.

Luis Fabulano voltará a vestir a camisa tricolor
Parece que o Brasil virou a solução de vários boleiros que se não se adaptaram ou se cansaram do estilo rigoroso da Europa e de outros continentes pelo mundo. No país do futebol pentacampeão mundial, onde há um carinho – e cobrança – diferente e mais exagerado da torcida, cartolas que fazem vista grossa e concedem regalias para os medalhões da equipe, possibilidade de ficar próximo da família e amigos, ótima remuneração e principalmente, chances maiores de vestir a camisa da Seleção Brasileira, é o destino certo para os jogadores que desejam dar a volta por cima na sua carreira ou simplesmente ter uma aposentadoria bastante confortável.
Em 2008, um artilheiro bastante conhecido passou por aqui e deixou sua marca. Após um declínio na sua carreira e o fracasso na Copa de 2006 pela seleção, o São Paulo resolveu investir em Adriano, e, mesmo não ganhando nenhum título, fez com que ele voltasse a vestir a camisa da Canarinho e deixou bons indícios dessa moda que se alastraria em menos de um ano.
Ronaldo teve um começo avassalador
no Corinthians
Para alguns, porém, o marco inicial dessa história tem o primeiro capítulo escrito na volta de Ronaldo ao Brasil, fechando contrato milionário com o Corinthians, em 2009. Com a transferência do Fenômeno, o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo, empresários e dirigentes perceberam que mesmo arcando com altos salários, repatriar algum jogador – de preferência que tenha um histórico glorioso na equipe ou que adquiriu o status de craque ao decorrer da carreira – pode render muito para os cofres. A experiência com Ronaldo provou essa teoria e com a diretoria corintiana explorando muitíssimo bem a sua imagem, trouxe mais torcida e dinheiro para o clube, além de um primeiro semestre espetacular para o time do Parque São Jorge dentro de campo, ganhando o Campeonato Paulista de forma invicta e a Copa do Brasil, com o camisa nove sendo o principal atleta desses títulos. Iniciou-se assim uma história de alegrias e tristezas para o futebol brasileiro com personagens bastante importantes...
Na véspera da Copa do Mundo de 2010, vários jogadores perceberam que a última cartada para conseguir ser convocado por Dunga seria atuando no Brasil, o que motivou a volta de vários jogadores, como as dos atacantes Fred, do Lyon para o Fluminense, Adriano, na sua segunda passagem no Brasil, mas agora pelo Flamengo, e Vágner Love, do CSKA Moscou para o Palmeiras.
Em 2010 foi a vez de Robinho fazer sucesso e tornar-se uma das principais repatriações da temporada, jogando pelo clube pelo qual foi ídolo, o Santos. Com direito a gol de letra na sua estreia, foi decisivo para que o Peixe ganhasse o Campeonato Paulista e Copa do Brasil. Outros craques também aportaram por aqui, como Roberto Carlos, Alex Silva, Cicinho e até mesmo aqueles que já foram escolhidos como os melhores do mundo tempos atrás, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.

Ronaldinho Gaúcho voltou para o Brasil e promete muito samba e títulos para o Flamengo
Mas ao contrário do que muitos pensam, voltar ao Brasil e jogar só com o nome não basta. Há inúmeros casos de jogadores e craques que não conseguiram emplacar sequencias de bons jogos e caíram em desgraça com a torcida e dirigentes. Keirrison, artilheiro no Coritiba e Palmeiras, após uma passagem frustrante na Europa resolveu voltar ao país e não conseguiu ser nem 10% daquilo que ele já foi um dia defendendo a camisa do Coxa, parece que não sabe mais jogar futebol. Belleti e Deco chegaram ao Fluminense no ano passado com altos salários e confiança, o resultado disso foi que mesmo com o título do campeonato nacional de 2010, os dois jogaram pouquíssimas partidas, se lesionaram e na semana passada o lateral rescindiu seu contrato com o clube, enquanto que o luso-brasileiro continua sem encantar a torcida. Entre vários outros, como Cléber Santana no São Paulo, Felipe no Vasco, Danilo no Corinthians, e Ilan Araujo no Internacional. Também não pode ser esquecida a conturbada saída de Roberto Carlos do Corinthians para o futebol russo, mesmo ele sendo escolhido como o melhor lateral-esquerdo do Brasileirão do ano passado, ficou marcado pela eliminação na Libertadores deste ano e não foi poupado pela torcida, que ameaçou de inúmeras maneiras o veterano, inclusive sua família.

Keirrison ainda não conseguiu provar o alto investimento do Santos em se futebol
Este ano não foi diferente e mais jogadores chegaram como Thiago Neves, Elano, Luís Fabuloso, e, com certeza muitos outros em breve estarão por aqui. Essa moda de repatriar jogadores, se muito bem feita, traz ótimas receitas e resultados para o clube, dentro e fora de campo. Abre-se assim um leque enorme para exploração da imagem do atleta, projetos para agregar ainda mais os torcedores que com certeza desejarão assistir a esses craques nos estádios e a parceria de clubes com empresas. O futebol no Brasil mudou de uma forma surpreendente, como eu havia explicado na minha última postagem no blog, e essas repatriações tendem a crescer cada vez mais. Há jogadores que preferem segurar mais um pouco a sua ida para o exterior para ter a possibilidade de jogar ao lado de algum craque ou ídolo que decidiu voltar para cá...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O tempo em que o futebol era só futebol

     É indiscutível que o futebol tomou dimensões diferentes ao decorrer do tempo. O estilo de jogo, o comportamento de jogadores, as transferências, infra estrutura de estádios e centro de treinamentos... O futebol tornou-se um negócio lucrativo.
     É da natureza humana se interessar em algo que rende muito dinheiro e é mais humano ainda o desejo de ganhar mais e de maneira rápida, não importando os meios para isso. Infelizmente o futebol tornou-se corrupto nos bastidores; nós, torcedores, não temos nem ideia do que se passa por detrás da cortina desse enorme palco que engloba o esporte mais amado do mundo.
     O exemplo mais recente foi o caso Ronaldinho aqui no Brasil. O craque afirmou seu desejo de voltar ao seu país de origem e alegou a vontade de vestir novamente a camisa do time que o lançou ao mundo, o Grêmio. A negociação foi transformada numa novela sem fim, no qual o próprio jogador covardemente preferiu ser o coadjuvante da história, enquanto que seu irmão e empresário, Assis, virou o protagonista. Sinceramente, a transferência foi a mais nojenta dos últimos tempos, sendo que imprensa e clubes deixavam-se serem rebaixados e humilhados pela dupla de irmãos. Demorou para Grêmio e Palmeiras entenderem que são muito maiores do que Ronaldinho e pararam as negociações. No fim, o jogador, ou sambista, foi no Flamengo, time ideal para sua volta ao Brasil. Por quê? “Flamengo é Flamengo!”

Assis e Ronaldinho protagonizaram uma transferência que pareceu ser mais uma novela.

     Outro fato que mostra como o futebol perdeu seus princípios foram as eleições para escolher as sedes das Copas de 2018 e 2022. Rússia e Catar, respectivamente, faturaram o direito de abrigar o evento esportivo mais importante do mundo, vencendo a concorrência contra países como Inglaterra, Portugal/Espanha, Japão e Estados Unidos, que têm melhor estrutura. Tais escolhas põem em xeque, literalmente, os critérios de escolha das sedes. Especula-se que a Rússia gastou para promover sua candidatura 80 milhões de dólares, já o Catar não divulgou os gastos, que podem ter superados os investimentos russos. Depois Blatter quer combater a corrupção no futebol.

Os representantes de Catar e Rússia celebrando o resultado da escolha das sedes para as Copas de 2018 e 2022

     Indiscutível também o poder dos empresários e investidores no futebol, que se preocupam somente com o quanto que irão receber e burlam os verdadeiros princípios do futebol. Neymar, talvez o personagem mais polêmico de 2010, pode explicar essa história muito bem. Após ser barrado pelo técnico Dorival Júnior, então técnico do Santos, pra bater um pênalti contra o Atlético-GO, o jogador brigou com o capitão Edu Dracena e ainda xingou o técnico. Resultado? Dorival afastou o jogador da equipe durante algumas partidas, mas quando o Santos enfrentaria o Corinthians, foi demitido. No final da temporada, Roberto Brum que foi dispensado do time comentou que os jogadores teriam seus salários não pagos caso Neymar não jogasse... Alguma bomba ainda vai aparecer em breve. Por causa de empresários e investidores, Dorival pagou o pato ao tentar educar Neymar.
Neymar, craque com a bola e com
confusões.

     Não fugindo ainda do assunto de empresários fluentes no futebol, em janeiro de 2010 o jogador Oscar entrou na Justiça contra o São Paulo, para sair do clube. Ficou muito claro que seu empresário fez sua cabeça, alguns outros companheiros de equipe também tentaram processar o clube paulista, mas repensaram. Hoje Oscar está no Internacional-RS, sem espaço para jogar, o que reclamava no São Paulo, mas vinha ganhando oportunidades frequentemente. Segundo o goleiro Deola, do Palmeiras, a categoria de base do clube está totalmente dominada por empresários: “A base do clube é, realmente, muito dominada pelos empresários. É muito jogo de interesse. A base deixou de ser um pouco do Palmeiras e passou a ter outras finalidades. Estamos carentes de matéria-prima”, em entrevista exclusiva ao Jornal Lance.
     Os empresários não têm mais limites no mundo do futebol, além de persuadir e controlar literalmente a vida de um jogador, principalmente os garotos de base, tomaram conta de clubes. Hoje na verdade o que existe é um clube/empresa, onde o time de futebol, com a ajuda de investidores e empresários, organiza a equipe. Infelizmente alguns clubes estão tornando-se reféns dessas parcerias Traffic e Sonda da vida, deixando de lado sua grandeza. Pior que isso só mesmo esses falsos times, criados e administrados unicamente por empresários. Grêmio Barueri tornou-se Grêmio Prudente, e Guaratinguetá para Americana. Pergunto-me quem é o ser humano que torce por esse time, que não respeita seu patrimônio e muda de nome a cada temporada... O resultado desses times fantasmas, Grêmio Prudente foi rebaixado de maneira vergonhosa ano passado no Brasileirão e corre o risco de também ser no Paulistão deste ano. E podem ter certeza, Americana está fazendo uma campanha boa por enquanto no campeonato estadual. Como disse o grande Casagrande, esses times deveriam sumir!
A nova camisa da Seleção
divide opiniões.

      Senti-me ferido por dentro quando conferi a nova camisa da Seleção Brasileira para os próximos anos... Eu tinha ciência de que os interesses econômicos e políticos muitas vezes prevalecem no futebol, mas por respeito aos nossos antepassados e a grandiosa história do futebol brasileiro, algumas situações não deveriam também ser desrespeitadas. Agora vejo que não há limites, pois até mesmo o manto da nossa Seleção sofreu com os interesses de outros. O histórico da camisa tão bela da Canarinho não permite esse novo visual, que contém uma faixa horizontal verde no peito. É preciso repensar alguns conceitos... Será mesmo que o dinheiro é capaz de passar por cima do nosso legado? Parece que sim...
     Por fim, só lamento que o futebol ficou vítima de interesseiros e corruptos. Seus princípios foram esquecidos e um novo conceito está sendo criado. Mesmo com esse cenário sendo mudado drasticamente, o futebol ainda é, e sempre será, o esporte mais amado e visto em todo o mundo. Nós torcedores iremos nos esforçar para esquecer o lado político e econômico do esporte, e quando a bola rolar em campo, vamos pensar unicamente na emoção que o futebol nos proporciona dentro de campo.